Como um comerciante libanês pode te ajudar a enriquecer?

Comerciante Libanês

Seu Mustafá era um “brimo” que frequentava a mesquita de Curitiba quando eu era pequeno. O coroa era muito afável e achava curioso que eu fosse sozinho rezar às sextas-feiras, sem meus pais.

Eu tinha uns dez anos de idade, e pegava o ônibus correndo após a escola. Meu pai não ligava para religião e dependendo do humor se dizia ateu, muçulmano ou agnóstico. Eu gostava da mesquita e sempre me senti atraído pela religião.

Este post apareceu originalmente em Oceans14.

Após as orações de sexta-feira, seu Mustafá costumava me levar para a casa dele para almoçar e depois íamos com os filhos dele para o “lujinha”.

Eu era uma espécie de mascote, já que o filho mais novo tinha uns quinze ou dezesseis anos e já tomava conta de uma outra loja no centro.

Três filhos, três lojas (fora a sociedade na lanchonete do irmão, imóveis espalhados pela cidade, etc). Eu ficava ali até fechar a loja e depois apanhava o ônibus pra casa. Às vezes voltava aos sábados. Sempre gostei daquele movimento do comércio. Comprar, vender, escolher mercadorias, atender aos clientes. Aquilo me atraía.

Um dia, para minha surpresa, seu Mustafá vendeu uma das lojas.

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Ao me ver intrigado, o velho me levou para a lanchonete do irmão dele, que ficava na Praça Tiradentes. Me deu um guaraná e uma coxinha e fiquei escutando ele e o irmão conversando em árabe (não entendia quase nada) até que o irmão foi cuidar do caixa e ele me falou com aquele sotaque carregado;

“vucê quer saber burgue nos vende o lojinha, non é verdade?”.

Eu só olhei cismado sem saber o que deveria responder. Então ele me deu uma lição que uso até hoje. Nos negócios e, principalmente, na bolsa de valores.

Ele narrou como ele e o irmão tinham vindo adolescentes para o Brasil na década de 40 e como tirando “o butaria”, “os breguiçoso” e “os bulíticos” esse país era maravilhoso. As oportunidades que todas as pessoas tinham de enriquecer e como podíamos viver em paz, num clima abençoado, sem guerra e sem fome.

Também me falou que depois que crescesse nunca deveria ter apenas um negócio, “um lujinha”, mas no mínimo três, nunca mais que dez e de preferência sete.

Disse que com menos de três negócios estamos sujeitos a perder tudo se um ponto que era bom piora, ou a concorrência aumenta, ou algo ruim acontece. Disse que a gente sempre começa com um negócio, mas deve diversificar assim que possível.

Então passou a me contar que com mais de nove negócios perdemos a mão, não dá pra controlar, é fácil ser roubado e “os negócio ruim, toma tempo dos negócio bom, esse num bode contece. Ideal é sete negócio. Homem trabalhador com inteligência bode administrar sete negócio.”

Me disse que os negócios eram como pequenas fogueiras que acendíamos no inverno para nos aquecer. “Vucê acende sete fogueiras, aquelas que pegam fogo melhor, vucê tira lenha das outras e reforça elas, nunca ao contrário”.

As sete fogueiras

Olha que sabedoria! Três negócios você está caindo na complacência, dez você está perdendo o foco, sete e pra manter o ritmo. Simples e perfeito.

As fogueiras que não estivessem indo como esperado, tinha que usar a madeira nas outras sem dó. Dificilmente dos sete negócios, todos irão bem, e mesmo que todos estejam bem, nem todos terão o mesmo desempenho. Venda ou feche os piores e invista nos melhores. Nunca tente reanimar um negócio que não deslancha. Quando dos sete sobrarem três, comece outros novos.

Seu Mustafá me dizia que amor se dedica a algumas pessoas e a Deus, não a negócios. Se o negócio vai mal, fecha. Se vai bem e aparece uma oferta boa, vende. “Num bensa muito”.


O texto acima do sr Mustafá bate com o que já escrevi neste espaço. Pois diversificar é bom mas tem limite. Você já conferiu meu texto sobre o perigo dos excessos na diversificação, certo?

A história do sr Mustafá traz a lembrança do livro “O Homem mair rico da Babilônia

Já leu? Em breve pretendo aborda-la aqui neste espaço.

Também me faz lembrar da minha inquietação quanto a ter apenas uma renda, um emprego fixo. Se com menos de três “lujinhas” podemos ter problema, imagina com uma só?

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Marcelo Barbarossa
4 anos atrás

Muito bom artigo! Sempre me identifiquei com estes pensamentos.

Abraços!